Nessa bela imagem da DOLCE & GABBANA, temos em primeiro
plano um objeto circular e uma linda modelo, que logo de início nos olha e nos
reconhece.
Sobrepõe-se ao anúncio uma mulher
deitada completamente de branco, em uma cama branca e com um tom de pele quase
que bege. Mas essa mulher não é uma mulher qualquer, ela é perfeita; aqui a
perfeição existe. Seu rosto parece ter sido desenhado, moldado à mão. Sua pele
parece ser de porcelana e seus olhos de vidro. O cabelo brilha de forma anormal
e sua boca parece não se mover. O tempo parece que a congelou, assim então,
podemos colocar aqui o que Freud disse no seu texto “O Estranho (1919)”: “‘[...]
dúvidas quanto a saber se um ser aparentemente animado está vivo; ou, do modo
inverso, se um objeto sem vida não pode ser na verdade animado’ como figuras de
cera, bonecos e autômatos engenhosamente construídos”¹. Temos no anúncio da DOLCE & GABBANA um exemplo claro de
um ser que não se sabe se está vivo ou não. Algo inanimado que de tão perfeito,
foge totalmente do plano do humano. A luz de fundo que chega ao seu belo rosto
faz sua pele reluzir de forma a parecer uma porcelana, algo frágil e absoluto
que alimenta a nossa carência de perfeição. O jogo de brancos que existe nesse
ambiente concede a essa mulher um ar de divina, o Todo, a lua a própria luz².
Não se poderia deixar de citar a
análise de Vanessa Brasil ao anúncio da mesma marca que está no seu livro “Além
do Espelho”, e é justamente desta obra que saiu a seguinte frase: “Toda essa
atmosfera estranha, mescla de fantástico, cria no espectador uma sensação de
que ‘algo sentido, temido e secretamente desejado pelo sujeito, torna-se, de
forma súbita, realidade’ (TRÍAS, 2006, p. 47)”
O objeto, que toma sempre uma
dimensão enorme para o nosso olhar, também tem papel importante aqui, pois foi
ele que a imortalizou e a tornou um ser imortal, inanimado e o qual o tempo não
pode corromper e nem atingir. O objeto total, no caso CREAMY FUNDATION, também tem um texto que reforça seu poder
absoluto: “the new Perfect Finish”,
ou seja, “O novo Acabamento Perfeito”, porém “Perfect Finish”, também pode ser lido como “Fim Perfeito”. Outra vez
o objeto se coloca como pleno, absoluto e capaz de deixar o fim perfeito, mas
um fim relativo, que
durará pelo infinito dos tempos. Tudo isso nos faz delirar diante de um ser que
é completo e foi feito sob medida para o nosso olhar poder gozar.
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