domingo, 10 de agosto de 2014

#8 DOLCE & GABBANA PARFUMS



No anúncio de perfume Dolce & Gabbana temos seres completamente nus e esteticamente perfeitos. Ao olhar para a figura acima, logo há a sensação de que algo é escondido; seria isso o visível? O sujeito estaria prestes a ver o que ele sempre desejou? Os perfumes do lado direito respondem que não. É claro, o pesadelo da castração pelo sujeito não pode ser visto, ela tem que ser substituída por algo que, ao mesmo tempo em que supre sua necessidade por esse falo imaginário, não o deixe a vista, pois o mesmo causará a cegueira: “A beleza é uma aparência e um véu que escamoteia nossa visão de um abismo sem fundo e sem remissão no qual tira toda visão e se trinca todo efeito de beleza” (TRÍAS, 2006, p.79).

Os objetos extremamente fálicos, que se apresentam em sinal de igualdade, enaltecem-se, sendo eles o tampão para toda fenda presente. Os corpos se tocam formando uma teia, que nos leva para o centro do anúncio, onde temos de fato, o centro formado pela junção das partes, Pode-se observar também a dualidade presente no local; todos vivem no delírio imaginário. Aqui podemos ver mais uma vez o nem masculino, nem feminino¹ e uma promessa que não se cumprirá:

Na grande maioria dos casos, dentro desta incessante expansão metafórica da totalidade, o sexo, a promessa do encontro sexual, haverá de ocupar um lugar relevante. Junto aos mais belos e prometedores corpos, junto aos objetos, cujo desenho, design, imita as linhas da sensualidade feminina ou a musculação da virilidade, todas as metáforas da união sexual, inclusive aquelas mais absurdas, aparecerão em cena para associar-se ao objeto e confirmar sua promessa de totalidade. (GONZÁLES REQUENA; ORTIZ DE ZÀRATE, 1995)

O modelo do meio, único que está colocado de forma reta no anúncio, mira o espectador e de uma maneira extremamente sinuosa, mostra que está pronto para pegar algo, porém a modelo logo acima dele, em um gesto de não deixar a vista para o sujeito o que deve permanecer velado², o nega. No lado esquerdo da peça temos dois corpos masculinos que parecem se fundir em um ambiente totalmente especular. A forma como as modelos estão, lembra-nos o quadro “O Nascimento de Vênus”, porém ao contrário de Vênus, as lindas mulheres fálicas escondem o que não pode ser visto, não o que lhe faltam.

Esse ambiente, que traz ao fundo uma luz forte, que parece tomar conta dos corpos aos poucos, nos deixa em uma atmosfera estranha, em outras palavras: “Toda essa atmosfera estranha, mescla de fantástico, cria no espectador uma sensação de que ‘algo sentido, temido e secretamente desejado pelo sujeito, torna-se, de forma súbita, realidade’. (TRÍAS, 2006, p. 47)” (RODRÍGUEZ, 2011, p. 127).




1 Ver análise do anúncio “Japur”.
2 Termo utilizado por Vanessa Brasil na análise do anúncio do perfume da mesma marca no livro Além do Espelho, (2011, p.124).
Análise: Nelson Filho, Yago Matheus e Laize Alves

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