No
anúncio de perfume Dolce & Gabbana
temos seres completamente nus e esteticamente perfeitos. Ao olhar para a figura
acima, logo há a sensação de que algo é escondido; seria isso o visível? O
sujeito estaria prestes a ver o que ele sempre desejou? Os perfumes do lado
direito respondem que não. É claro, o pesadelo da castração pelo sujeito não
pode ser visto, ela tem que ser substituída por algo que, ao mesmo tempo em que
supre sua necessidade por esse falo imaginário, não o deixe a vista, pois o
mesmo causará a cegueira: “A beleza é uma aparência e um véu que escamoteia
nossa visão de um abismo sem fundo e sem remissão no qual tira toda visão e se
trinca todo efeito de beleza” (TRÍAS, 2006, p.79).
Os
objetos extremamente fálicos, que se apresentam em sinal de igualdade,
enaltecem-se, sendo eles o tampão para toda fenda presente. Os corpos se tocam
formando uma teia, que nos leva para o centro do anúncio, onde temos de fato, o
centro formado pela junção das partes, Pode-se observar também a dualidade
presente no local; todos vivem no delírio imaginário. Aqui podemos ver mais uma
vez o nem masculino, nem feminino¹ e
uma promessa que não se cumprirá:
Na
grande maioria dos casos, dentro desta incessante expansão metafórica da
totalidade, o sexo, a promessa do encontro sexual, haverá de ocupar um lugar
relevante. Junto aos mais belos e prometedores corpos, junto aos objetos, cujo
desenho, design, imita as linhas da sensualidade feminina ou a musculação da
virilidade, todas as metáforas da união sexual, inclusive aquelas mais
absurdas, aparecerão em cena para associar-se ao objeto e confirmar sua
promessa de totalidade. (GONZÁLES REQUENA; ORTIZ DE ZÀRATE, 1995)
O
modelo do meio, único que está colocado de forma reta no anúncio, mira o
espectador e de uma maneira extremamente sinuosa, mostra que está pronto para
pegar algo, porém a modelo logo acima dele, em um gesto de não deixar a vista
para o sujeito o que deve permanecer velado², o
nega. No lado esquerdo da peça temos dois corpos masculinos que parecem se
fundir em um ambiente totalmente especular. A forma como as modelos estão,
lembra-nos o quadro “O Nascimento de Vênus”, porém ao contrário de Vênus, as
lindas mulheres fálicas escondem o que não pode ser visto, não o que lhe faltam.
Esse
ambiente, que traz ao fundo uma luz forte, que parece tomar conta dos corpos aos
poucos, nos deixa em uma atmosfera estranha, em outras palavras: “Toda essa
atmosfera estranha, mescla de fantástico, cria no espectador uma sensação de
que ‘algo sentido, temido e secretamente desejado pelo sujeito, torna-se, de
forma súbita, realidade’. (TRÍAS, 2006, p. 47)” (RODRÍGUEZ, 2011, p. 127).
1 Ver análise do
anúncio “Japur”.
2 Termo utilizado
por Vanessa Brasil na análise do anúncio do perfume da mesma marca no livro Além do
Espelho, (2011, p.124).
Análise: Nelson Filho, Yago Matheus e Laize Alves
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