Um
objeto antropomórfico em primeiro plano e uma figura de uma mulher em segundo.
Assim podemos descrever a primeira vista o anúncio do Eau d’ Eden, porém temos aqui muito mais do que apenas o
superficial.
Primeiro
podemos ver a linda modelo totalmente coberta por rosas; algo que de cara
podemos associar a perfeição dela. Na imensidão de flores apenas seu rosto e um
dos seios são deixados a vista e ainda no seu rosto, podemos ver apenas um lado
da sua bochecha pintada de um rosa sutil, logo mais iremos destrinchar aqui o
por que. Sem sombras de dúvidas estamos
na presença de Eva¹,
na sua plena forma de ser perfeito, puro e narciso. Algo evidenciado pela forma
de reflexo que é vista na parte inferior do anúncio: é como se ela estivesse
flutuando na água, estamos de fato no paraíso.
Por
isso a realidade se dilui: Não há realidade na relação dual, dado que sua
economia é a do narcisismo primário. No espelho dual, na plenitude da
identificação imaginária, não há lugar para o significante e por isso o objeto
não pode ser simbolizado: não conhece, aí, outro especular, esse sobre o que o
Eu, não origem, teve de modelar-se. (1997, p. 57)
A
aparição de uma de seus seios nos leva a uma semelhança com o quadro Madona de Jean Fouqut, porém sem
dimensões simbólicas, pois no ambiente do dual e do imaginário isso não é
viável. Esse gesto também faz presente à comparação do próprio pecado original;
sim, aquele que, segundo a Bíblia, foi cometido por Eva e que deu a perda do
Paraíso para Ela e Adão. Todavia, nesse ambiente de gozo visual, ela, a modelo,
é o próprio paraíso. Um paraíso que tem por finalidade alimentar a necessidade
do sujeito por perfeição. Outro fato a ser observado aqui, e que nos leva mais
uma vez ao pecado no Jardim do Éden é, como havíamos dito no começo, o fato de
apenas uma das suas bochechas estarem pintadas e esse ciclo se fecha de forma
evidente no não reflexo dela na água, ou seja, apenas resta a sua forma
original: de rosas puras e porque não dizer, virginais.
No
momento em que ela é refletida na água, surgi também o signo textual: “Eau d’ Eden”, ou seja, “A água do Éden” com o seguinte slogan: “Un parfum de paradis”, traduzindo: “Um perfume do paraíso”. O objeto absoluto
se coloca como perfeito, pleno e capaz de reconstituir a plenitude do ser
narcisista; coisa que ele já conseguiu com a modelo. A igualdade é evidente,
até pelo fato do reflexo: parece que ele, O Perfume, faz parte do reflexo da
Eva. O objeto publicitado, toma vida própria e em primeiríssimo plano, com uma
tampa que mais parece um olho com uma fenda negra e também com o seio da
modelo, identifica o sujeito juntamente com sua imagem plena, a modelo, e o
destrói.
É
como se Ele, O Perfume, dissesse: “Eu sou mais que signo, sou sedução: imagem ativa,
olhante, que te satisfaz e preenche” (GONZÁLES REQUENA; ORTIZ DE ZÁRATE, 1995).
1. Segundo a Bíblia,
Deus criou Eva da costela de Adão para os dois viverem em um paraíso chamado
Éden, porém, o pecado de comer o fruto proibido exercido por Eva, levou-os a
serem expulsos do Jardim.
Análise: Nelson Filho, Laize Alves e Yago Matheus
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