quinta-feira, 31 de julho de 2014

#7 VV - ROBERTO VERINO


“Narciso entristeceu-se e foi à beira de um lago, onde, de modo surpreendente, deparou-se com sua imagem nos reflexos da água. Como nunca antes havia se olhado (pois sua mãe foi recomendada a não permitir que isso ocorresse), enamorou-se perdidamente, acreditando ser a pessoa com quem estava “dialogando”. Por isso, tentou buscar incessantemente o seu reflexo, imergindo nas águas nesse intento, mas acabou morrendo afogado.” Com esse trecho do “Mito de Narciso” que começamos nossa análise, até porque o que se vê no anúncio de Roberto Verino é um ser narcisista, que para tentar pegar sua imagem mergulhou, definitivamente, em si mesmo.

Ao olhar para a figura acima, podemos perceber o quanto a modelo é perfeita; corpo desenhado, rosto angelical, nua e em busca de algo. Mas o que ela procura? Tão perfeita e não está satisfeita? Ela procura sua imagem em um gesto desesperado para encontrá-lo no lugar onde a viu: na água.

O eu, portanto, percebe imagens – e aqui vem a compilação, imagens que, uma vez inscritas no Eu, uma vez recebidos pelo Eu, convertem-se na substância do eu. Ou seja, que entre o Eu e o mundo entende-se uma única dimensão contínua, sem nenhuma quebra, sem ruptura, que chamamos: dimensão imaginária. (NASIO, 1994, p. 27)

A dimensão do Real está totalmente fora desse universo de gozo em si mesmo. Um ser fálico, perfeito e distante de tudo que já se viu - pela união das suas pernas lembra uma sereia - encantadora, aquela que vai, definitivamente, destruir o sujeito. Na imagem também se torna visível o ocultamente de algo, daquilo que não pode ser visto, porém que vem à tona na presença do objeto perfeito: O Perfume. Sua forma redonda o leva a perfeição e a sua posição colocá-o como um tampão; aquele que vai cobrir e tapar toda fenda. O objeto pleno possui um formato intrigante: um círculo preso dentro de um quadrado. “É isso sim, a metáfora do universo circular, redondo e perfeito deste mundo imaginário no qual habitam o objeto absoluto do desejo e o Eu enquanto espectador aprisionado.” (RODRIGUEZ, 2011, p.107).


A igualdade, Perfume-Mulher é sem dúvida perceptível: ela parece estar prestes a ser aprisionada dentro deste ambiente, assim como o perfume foi. Algo que provoca o espectador e o deixa, definitivamente, sem fôlego. A forma sutil como ela toca a beira d’água é fantástica; um ser delicado, porém fatal, que vai a busca de algo que nunca deixará de ser viciada: sua imagem diante do espelho (água).

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Análise: Nelson Filho, Yago Matheus e Laize Alves

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