“Narciso
entristeceu-se e foi à beira de um lago, onde, de modo surpreendente,
deparou-se com sua imagem nos reflexos da água. Como nunca antes havia se
olhado (pois sua mãe foi recomendada a não permitir que isso ocorresse),
enamorou-se perdidamente, acreditando ser a pessoa com quem estava
“dialogando”. Por isso, tentou buscar incessantemente o seu reflexo, imergindo
nas águas nesse intento, mas acabou morrendo afogado.” Com esse trecho do “Mito
de Narciso” que começamos nossa análise, até porque o que se vê no anúncio de Roberto Verino é um ser narcisista, que
para tentar pegar sua imagem mergulhou, definitivamente, em si mesmo.
Ao
olhar para a figura acima, podemos perceber o quanto a modelo é perfeita; corpo
desenhado, rosto angelical, nua e em busca de algo. Mas o que ela procura? Tão
perfeita e não está satisfeita? Ela procura sua imagem em um gesto desesperado para
encontrá-lo no lugar onde a viu: na água.
O
eu, portanto, percebe imagens – e aqui vem a compilação, imagens que, uma vez
inscritas no Eu, uma vez recebidos pelo Eu, convertem-se na substância do eu.
Ou seja, que entre o Eu e o mundo entende-se uma única dimensão contínua, sem
nenhuma quebra, sem ruptura, que chamamos: dimensão imaginária. (NASIO, 1994,
p. 27)
A
dimensão do Real está totalmente fora desse universo de gozo em si mesmo. Um
ser fálico, perfeito e distante de tudo que já se viu - pela união das suas
pernas lembra uma sereia - encantadora, aquela que vai, definitivamente,
destruir o sujeito. Na imagem também se torna visível o ocultamente de algo,
daquilo que não pode ser visto, porém que vem à tona na presença do objeto
perfeito: O Perfume. Sua forma redonda o leva a perfeição e a sua posição
colocá-o como um tampão; aquele que vai cobrir e tapar toda fenda. O objeto pleno
possui um formato intrigante: um círculo preso dentro de um quadrado. “É isso
sim, a metáfora do universo circular, redondo e perfeito deste mundo imaginário
no qual habitam o objeto absoluto do desejo e o Eu enquanto espectador
aprisionado.” (RODRIGUEZ, 2011, p.107).
A
igualdade, Perfume-Mulher é sem dúvida perceptível: ela parece estar prestes a
ser aprisionada dentro deste ambiente, assim como o perfume foi. Algo que
provoca o espectador e o deixa, definitivamente, sem fôlego. A forma sutil como
ela toca a beira d’água é fantástica; um ser delicado, porém fatal, que vai a
busca de algo que nunca deixará de ser viciada: sua imagem diante do espelho
(água).
_______________________________
Análise: Nelson Filho, Yago Matheus e Laize Alves
0 comentários:
Postar um comentário