quinta-feira, 17 de julho de 2014

#3 JIMMY CHOO


“E é sem dúvida, um gozo extremo, absoluto, em que voluntariamente interpretam os atores do comercial, quando entram em contato com o produto”. (REQUENA)

Com esse trecho do texto, “Entre o Signo e o Espelho” de Requena que começo a minha análise, já que o que se observa nesse anúncio nada mais é do que o gozo pleno, absoluto, totalmente gozoso e fingido. Em primeiro plano vemos bem uma mulher, com traços perfeitos, segurando um frasco de perfume. Mas já pelo frasco vemos o quão perfeito é esse objeto. Sua forma redonda o leva a forma da perfeição e sua tampa quadrada nos remete ao quadro “O Batismo de Cristo” de Piero Della Francesca, porém ao invés do céu na terra, temos a terra no céu. O frasco se funde com o lindo vestido da modelo, que lembra-nos a pele de uma cobra, mostrando assim, seu lado selvagem e fatal. A forma como ela segura o frasco, faz entender que o mesmo foi gerado no seu ventre, semelhança total em um processo de antropomorfização, onde o objeto toma formas da modelo. A igualdade é evidente. É bem claro que essa mulher é totalmente narcisista; com uma mão ela segura o perfume, já com a outra, a si mesma, parecendo estar gozando de forma sincronizada, enquanto toca o objeto máximo de desejo e a si própria. Uma luz emerge da Magna Mulher nesse momento de gozo, coisa que só foi possível no contato dela com o objeto completo, que não carece de nada, pois ele é o símbolo da perfeição e o tampão para toda fenda. Mais uma vez resalto a importância dos textos, reparem que o OO de JIMMY CHOO forma dois olhos. Olhos que nos reconhecem, porém não podemos esquecer que o próprio perfume já se iguala a um olho, que está em cena para suprir o nosso desejo.

Faz-se interessante o jogo de formas geométricas que surgem de maneira visível nesse anúncio. Além do perfume, o corte totalmente planejado do decote da modelo forma uma seta que mira diretamente para o perfume. Por outro lado, também podemos ver um triângulo se formando entre os dois ombros da bela mulher e o objeto absoluto: três lados perfeitos. Atrás dela também se percebem vários quadrados e retângulos que remetem a igualdade evidente no fato dela ser o perfume; os dois são a mesma coisa. A forma como ela goza nos remete ao “Êxtase de Santa Teresa” de Bernini, porém aqui temos a simulação em um gesto oco e sem o menor vértice de místico.

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