quinta-feira, 24 de julho de 2014

#5 JAÏPUR


No anúncio do Jaipur encontramos um corpo nu em segundo plano centralizado e logo abaixo, em primeiro plano, um objeto circular, o objeto publicitado, que aponta para o canto inferior esquerdo.

Ao olhar a figura acima, percebemos que entramos no campo do erótico, do prazer, do dual, do Masoquismo¹, que se fecha no ciclo: corpo, perfume, algemas, olho. O perfume se funde a pele da mulher e fecha-se de forma plena no seu corpo; como uma algema que prende as suas mãos e ao mesmo tempo anuncia que aquele gesto é definitivamente proposital. Temos na imagem analisada a elevação a um gesto do puro desejo, o perfume é, acima de tudo, o objetivo que a faz gozar.

Esse objeto com características antropomórfico se faz vivo na peça e cria nesse momento um olho, tendo assim, o papel de olhar e identificar o sujeito que está do outro lado e que logo será destruído pela plenitude e dualidade presente na cena.

Isto é próprio do mecanismo do espelho imaginário: produz a fantasia da fusão narcisista com o outro, isto é, a fantasia da recomposição da plenitude imaginária. Então, nem função informativa (transmitir informação), nem retórica (argumentar, convencer), mas fática, que acentua até o limite o contato comunicativo, entre Eu e você, não como figuras diferentes, mas como figuras idênticas, fundidas, únicas. (GONZÁLES REQUENA; ORTIZ DE ZÁRATE, 1995)

Nesse ambiente do imaginário, onde tudo entra no âmbito do igual, nada pode entrar e quebrar a plenitude do ser narcisista. Voltemos ao Masoquismo: o que se pode observar é um contrato firmado da pura satisfação do desejo, o do gozo; contudo não estamos falando do gozo real: ejaculação, mas sim do gozo na satisfação da plenitude alcançada no encontro com o objeto absoluto: Jaipur. Algo chama atenção no anúncio: o perfume-algema se funde no corpo da modelo na parte de trás, exatamente em cima das suas nádegas. Alguma justificativa para isso? Sim: “O papel também desempenhado no masoquismo pelas nádegas é facilmente compreensível, independentemente de sua base evidente na realidade. As nádegas são a parte do corpo que recebe preferência erógena na fase anal-sádica, tal como o seio na fase oral e o pênis na genital.” (FREUD, 1924).

A junção mulher-perfume é explicita, já que o objeto está definitivamente fundido ao seu corpo: ela é o preenchimento do mesmo, e ele por outro lado, é o tampão que ela necessita para torna-se plena e fálica. Podemos encontrar outra explicação para a ocultação da parte frontal da mulher em FREUD:

Essa estratificação superposta do infantil e do feminino encontrará posteriormente uma explicação simples. Ser castrado — ou ser cegado, que o representa — com freqüência deixa um traço negativo de si próprio nas fantasias, na condição de que nenhum dano deve ocorrer precisamente aos órgãos genitais ou aos olhos. (FREUD, 1924).

Ainda podemos falar da mudança de cor ao qual se torna perceptível; segundo Requena e Zarate (1995), esse episódio pode ser definido pelo “Nem Masculino, Nem Feminino”. Os signos textuais são de extrema importância aqui. Começamos pelo próprio nome do produto, Jaipur, nome de uma cidade da Índia conhecida como “Paraíso das Joias e Sedas”, logo não tem como não haver uma comparação ao formato do objeto absoluto, que é a própria metáfora de um anel. O slogan “An Parfum In  Attachant...” narra toda esta atmosfera ao ser traduzido: “Um perfume anexado”, ou seja, não há duvidas enquanto a pretensão deste anúncio: “[..] o masoquista deve fazer o que é desaconselhável, agir contra seus próprios interesses, arruinar as perspectivas que se abrem para ele no mundo real e, talvez, destruir sua própria existência real.” (FREUD, 1924).




1 Masoquismo nasce do desejo do outro; da necessidade de ter algo como desejo para suprir a falta que lhe é concedida enquanto sujeito desejante, algo relacionado ao preenchimento da falta e plenitude do falo imaginário.

Análise: Nelson Filho, Laize Alves e Yago Matheus

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