No
anúncio do Jaipur encontramos um
corpo nu em segundo plano centralizado e logo abaixo, em primeiro plano, um
objeto circular, o objeto publicitado, que aponta para o canto inferior
esquerdo.
Ao olhar
a figura acima, percebemos que entramos no campo do erótico, do prazer, do
dual, do Masoquismo¹, que se fecha no ciclo: corpo, perfume, algemas, olho. O perfume se funde a pele
da mulher e fecha-se de forma plena no seu corpo; como uma algema que prende as
suas mãos e ao mesmo tempo anuncia que aquele gesto é definitivamente
proposital. Temos na imagem analisada a elevação a um gesto do puro desejo, o perfume
é, acima de tudo, o objetivo que a faz gozar.
Esse
objeto com características antropomórfico se faz vivo na peça e cria nesse
momento um olho, tendo assim, o papel de olhar e identificar o sujeito que está
do outro lado e que logo será destruído pela plenitude e dualidade presente na
cena.
Isto
é próprio do mecanismo do espelho imaginário: produz a fantasia da fusão
narcisista com o outro, isto é, a fantasia da recomposição da plenitude
imaginária. Então, nem função informativa (transmitir informação), nem retórica
(argumentar, convencer), mas fática, que acentua até o limite o contato
comunicativo, entre Eu e você, não como figuras diferentes, mas como figuras
idênticas, fundidas, únicas. (GONZÁLES REQUENA; ORTIZ DE ZÁRATE, 1995)
Nesse
ambiente do imaginário, onde tudo entra no âmbito do igual, nada pode entrar e
quebrar a plenitude do ser narcisista. Voltemos ao Masoquismo: o que se pode
observar é um contrato firmado da pura satisfação do desejo, o do gozo; contudo
não estamos falando do gozo real: ejaculação, mas sim do gozo na satisfação da
plenitude alcançada no encontro com o objeto absoluto: Jaipur. Algo chama atenção no anúncio: o perfume-algema se funde no
corpo da modelo na parte de trás, exatamente em cima das suas nádegas. Alguma
justificativa para isso? Sim: “O papel também desempenhado no masoquismo pelas
nádegas é facilmente compreensível, independentemente de sua base evidente na
realidade. As nádegas são a parte do corpo que recebe preferência erógena na
fase anal-sádica, tal como o seio na fase oral e o pênis na genital.” (FREUD, 1924).
A
junção mulher-perfume é explicita, já que o objeto está definitivamente fundido
ao seu corpo: ela é o preenchimento do mesmo, e ele por outro lado, é o tampão
que ela necessita para torna-se plena e fálica. Podemos encontrar outra
explicação para a ocultação da parte frontal da mulher em FREUD:
Essa
estratificação superposta do infantil e do feminino encontrará posteriormente
uma explicação simples. Ser castrado — ou ser cegado, que o representa — com
freqüência deixa um traço negativo de si próprio nas fantasias, na condição de
que nenhum dano deve ocorrer precisamente aos órgãos genitais ou aos olhos.
(FREUD, 1924).
Ainda
podemos falar da mudança de cor ao qual se torna perceptível; segundo Requena e
Zarate (1995), esse episódio pode ser definido pelo “Nem Masculino, Nem Feminino”. Os signos textuais são de extrema importância aqui. Começamos pelo
próprio nome do produto, Jaipur, nome
de uma cidade da Índia conhecida como “Paraíso das Joias e Sedas”, logo não tem
como não haver uma comparação ao formato do objeto absoluto, que é a própria
metáfora de um anel. O slogan “An Parfum
In Attachant...” narra toda esta
atmosfera ao ser traduzido: “Um perfume
anexado”, ou seja, não há duvidas enquanto a pretensão deste anúncio: “[..]
o masoquista deve fazer o que é desaconselhável, agir contra seus próprios
interesses, arruinar as perspectivas que se abrem para ele no mundo real e,
talvez, destruir sua própria existência real.” (FREUD, 1924).
1 Masoquismo nasce
do desejo do outro; da necessidade de ter algo como desejo para suprir a falta
que lhe é concedida enquanto sujeito desejante, algo relacionado ao
preenchimento da falta e plenitude do falo imaginário.
Análise: Nelson Filho, Laize Alves e Yago Matheus
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