quarta-feira, 16 de julho de 2014

#1 VERSACE - BRIGHT CRYSTAL



No anúncio acima nos deparamos com um olhar, um perfume que toma uma proporção absoluta, um brilho surreal e que se anuncia como “Versace – Bright Crystal”, ou seja, “Versace – Cristal Brilhante”.

“Ela, a mulher, está aí, absoluta, insaciável, dourada e adorada¹. Nesse caso fugimos um pouco do dourado, mas entramos de cabeça no brilho. Brilho esse que aparece tanto no rosto da modelo, quanto no objeto já revelado com seu tamanho propositalmente exagerado para o nosso olhar. Mas que luz é essa? Estamos aqui diante de uma metáfora, mas não qualquer uma: delirante. Assim que olhamos para o anúncio do VERSACE vemos essa linda mulher, perfeita, fálica, que nos olha e nos reconhece rapidamente, e nos prende. Nosso olhar agora é só dela e de ninguém mais. E nas suas mãos vemos um enorme objeto que parece ser totalmente divino. Ela segurá-o com as duas mãos para não correr o risco de a seu perfume-joia cair, leva em direção ao seu rosto, e com o seu olhar para nós, sua boca aberta e corpo totalmente curvado, anuncia que goza. E o que mais reforça a ideia de gozo é o local onde estão: no sofá, que também pode ser uma cama, entre lençóis e travesseiros, onde estariam dois corpos no simbólico, agora só existe um objeto absoluto no imaginário. Essa mulher captura o nosso olhar e nos leva para fase do espelho. A plenitude do objeto narcisista está completa: o perfume a ilumina e ela em forma de retribuição emerge no prazer. Prazer esse que alimenta o nosso olhar. O perfume que aparece em primeiro plano, nos convida a participar daquele universo dual; parece nos olhar. Sua parte superior redonda e inferior quadrada traz uma lembrança ao quadro “O Batismo de Cristo” de Piero Della Francesca onde o circulo emerge no quadrado representado o céu na terra².

O design deste perfume lembra uma joia, mas não qualquer uma: aquela que brilha e ostenta uma luz fora do comum, como uma lua, astro maior. Tudo leva o nosso olhar para o objeto. Nesse mundo dual e totalmente imaginário, onde tudo está ali para mim, não há lugar para o simbólico e muito menos um terceiro elemento que possa ameaçar o pleno delírio narcisista. Quanto à modelo: seria ela uma Beata Ludvica Albertoni pós-moderna? Que agora recebe não um gozo místico, mas sim um que acontece no encontro com seu objeto absoluto e pleno: VERSACE? Acredito que sim.



1. Frase utilizada para fazer a análise do anúncio de J’dore no livro “Além do Espelho”. (BRASIL, Vanessa, 2011, p.105)
2.  Análise do quadro “O Batismo de Cristo” feito por Vanessa Brasil.

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