No anúncio acima nos deparamos
com um olhar, um perfume que toma uma proporção absoluta, um brilho surreal e
que se anuncia como “Versace – Bright
Crystal”, ou seja, “Versace – Cristal Brilhante”.
“Ela, a mulher, está aí,
absoluta, insaciável, dourada e adorada”¹.
Nesse caso fugimos um pouco
do dourado, mas entramos de cabeça no brilho. Brilho esse que aparece tanto no
rosto da modelo, quanto no objeto já revelado com seu tamanho propositalmente
exagerado para o nosso olhar. Mas que luz é essa? Estamos aqui diante de uma
metáfora, mas não qualquer uma: delirante. Assim que olhamos para o anúncio do VERSACE vemos essa linda mulher,
perfeita, fálica, que nos olha e nos reconhece rapidamente, e nos prende. Nosso olhar agora é só dela e de ninguém
mais. E nas suas mãos vemos um enorme objeto que parece ser totalmente divino. Ela
segurá-o com as duas mãos para não correr o risco de a seu perfume-joia cair,
leva em direção ao seu rosto, e com o seu olhar para nós, sua boca aberta e
corpo totalmente curvado, anuncia que goza. E o que mais reforça a ideia de
gozo é o local onde estão: no sofá, que também pode ser uma cama, entre lençóis
e travesseiros, onde estariam dois corpos no simbólico, agora só existe um
objeto absoluto no imaginário. Essa mulher captura o nosso olhar e nos leva
para fase do espelho. A plenitude do objeto narcisista está completa: o perfume
a ilumina e ela em forma de retribuição emerge no prazer. Prazer esse que
alimenta o nosso olhar. O perfume que aparece em primeiro plano, nos convida a participar
daquele universo dual; parece nos olhar. Sua parte superior redonda e inferior
quadrada traz uma lembrança ao quadro “O Batismo de Cristo” de Piero Della
Francesca onde o circulo emerge no quadrado representado o céu na terra².
O design deste perfume lembra uma
joia, mas não qualquer uma: aquela que brilha e ostenta uma luz fora do comum,
como uma lua, astro maior. Tudo leva o nosso olhar para o objeto. Nesse mundo
dual e totalmente imaginário, onde tudo está ali para mim, não há lugar para o
simbólico e muito menos um
terceiro elemento que possa ameaçar o pleno delírio narcisista. Quanto à
modelo: seria ela uma Beata Ludvica Albertoni pós-moderna? Que agora recebe não
um gozo místico, mas sim um que acontece no encontro com seu objeto absoluto e
pleno: VERSACE? Acredito que sim.
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